Revista da Faculdade de Engenharia e Arquitetura
             Vol.3 N° 1 Out. 2001          ISSN 1517 - 7432
 
A FUNÇÃO URBANA DAS NOVAS GALERIAS COMERCIAIS
Sérgio Fernando Miquelette Alves1

Alves, S. F. M. A Função Urbana das Novas Galerias Comerciais. Revista Assentamentos Humanos, Marília, v3, n. 1, p45-67, 2001.

ABSTRACT

This work studies a building inserted in the urban center mesh of a medium sized city and its relation with the city and its population, and also with its developments. The current deterioration of traditional centers in most of the Brazilian cities and the clear tendency of this phenomenon in medium sized cities testifies to the importance of research on this topic.

Key Words: Urban environment patrimony, Recycling of buildings, Architecture of comercial spaces.

Palavras-Chave: Patrimônio ambiental urbano, Reciclagem de edifícios, Arquitetura de espaços comerciais.

Baseado em monografia do autor com o tema “Um edifício na Cidade – Patrimônio Ambiental Urbano: Reciclagens e Reconversões.”, apresentada no ano de 1999 no Programa de Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo, Docente Responsável: Prof. Dr. Hugo Segawa.


1Arquiteto Professor na disciplina Projeto Arquitetônico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Marília

Introdução
“Interessa-nos agora não só a arquitetura dos edifícios, mas também uma arquitetura de relacionamento de edificações e espaços livres de uso coletivo e público; uma arquitetura de composição do cenário da vida coletiva, dos espaços de permanência (reunião) e dos espaços de movimento (circulação); uma arquitetura dos espaços urbanos.” (RODRIGUES, 1986, p.14)

O atual estado de deterioração dos centros tradicionais da maioria das grandes cidades Brasileiras e a tendência clara da ocorrência deste fenômeno nas cidades de porte médio , mesmo onde este ainda não ocorreu, avaliza a importância de pesquisas relativas ao assunto..
Algumas capitais já direcionam esforços no sentido de iniciar a recuperação do “centro da cidade”. Com a proliferação de Shopping Centers no interior do estado esta preocupação deverá se estender as cidades de menor porte.
Segundo BRUNA, 1989, p.97
“...a proliferação de shoppings em locais periféricos em relação à tradicional área central das cidades certamente tenderá a acentuar a preferência da população por estes novos empreendimentos, em detrimento do centro da cidade, que assim esta fadado à desvitalização. Daí a necessidade de as municipalidades envidarem esforços para a recuperação das áreas centrais, como já ocorrem em algumas cidades brasileiras, incentivando porém ainda mais, devido a seu grande sucesso, a apropriação das vantagens urbanísticas difundidas pelos shoppings procedendo então a reabilitação de edifícios antigos, à pedestrianização da circulação preferencial de compras, ...”
Este trabalho estuda um edifício inserido na malha do centro urbano de uma cidade de porte médio e sua relação com esta cidade e sua população, bem como seus desdobramentos . A pesquisa mostra uma intervenção com programa de
galerias comerciais numa cidade do interior do Estado de São Paulo e suas interferências sociais , econômicas e urbanas, procurando traçar também um paralelo entre o centro urbano tradicional e o Shopping Center , considerando a participação da Galeria Comercial surgida de uma reconversão na área central da cidade.
O espaço habitado constitui fonte de informação indispensável a realização de novos espaços, inclusive porque da apropriação do espaço pelo homem muitas vezes resulta a mudança da forma, ou reforma .
Segundo SEGAWA, 1997, p.191
“A questão pós-moderna abriu as sensibilidades e a tolerância com a diversidade de posicionamentos, com a apreensão e a compreensão de outras formas de instrumentar o raciocínio do projeto. Fenômenos percebidos mundialmente aportavam entre os arquitetos brasileiros: a percepção da falência de panacéias arquitetônicas (soluções supostamente válidas para todas as realidades), o maior diálogo com o contexto urbano ou o ambiente natural na implantação dos edifícios, o reconhecimento da história como referência projetual, a revalorização da reciclagem de edifícios como atitude de preservação cultural, a produção do espaço como resultado de uma colaboração entre arquitetos e usuários,...”

Desenvolvimento
Raizes Históricas

“...o momento passado está morto como “tempo”, não porém como “espaço”;...” (SANTOS, 1997, p.10)

As tradicionais passagens cobertas ou galerias comerciais, com suas coberturas em estrutura metálica com fechamento em vidro, surgiram na França, mais precisamente em Paris no ano de 1800 quando foi costruída a primeira delas, a “Panoramas”, que abrigava um conjunto de lojas sofisticadas : lojas de modas, antiquários, cafés e restaurantes entre outros.
O enorme sucesso da Panoramas desencadeou quase que imediatamente a construção de outras cinco galerias, e em 1840 já eram mais de cem só em Paris. Em pouco tempo haviam galerias por toda a Europa e depois pelo mundo todo.
Tratava-se de, como enfatiza GRAEFF, 1995, p.65 “edifícios inteiramente novos, quer enquanto programas de necessidades, quer enquanto aplicação de materiais e técnicas construtivas antes desconhecidas, e quer enquanto experiência insólita de agenciamento espacial urbano”.
Empreendimentos destinados a disponibilizar áreas de venda para um novo público de consumidores, as galerias exploravam os espaços interiores abertos das quadras através da criação de caminhos de pedestres nestas áreas. Segundo HERTZBERGER, 1996, p.77 “O conceito de galeria contém o princípio de um novo sistema de acesso no qual a fronteira entre o público e o privado é deslocada e, portanto, parcialmente abolida; em que, pelo menos do ponto de vista espacial, o domínio privado se torna publicamente mais acessível.”.


Neste período surgiram também as lojas de departamentos (o grande magazin francês) ; seu embrião foi a inauguração em 1852 de uma pequena loja de venda a varejo com o nome de Bon Marché , em Paris ; SENNETT, 1998, p.180 explica que “A loja se baseava em três idéias inéditas. A margem de lucro de cada item seria pequena, mas o volume de mercadorias vendidas seria grande. Os preços das mercadorias seriam fixos e claramente marcados. Qualquer pessoa poderia entrar nessa loja apenas para olhar, sem sentir qualquer obrigação de compra.”. A loja de departamentos surge em conseqüência da Revolução Industrial, da substituição do artigo feito a mão pelo feito a máquina , com um programa novo que redimensionou o comércio (e consequentemente a arquitetura dos espaços comerciais) em escala mundial .

A própria loja Bon Marché em 1860 construiu sua nova sede , a primeira loja moderna construída em ferro e vidro, com espaços de um grande armazém atacadista, considerado na época como modelo de elegância (Arquiteto L. A. Boileau e Engenheiro Eiffel , o da torre) .

O Contexto

“A contextualização supõe o levantamento da memória ambiental encontrada na documentação de arquivos, bibliotecas, jornais, revistas, fotos antigas – é importante saber como foi determinado ambiente, que usos estimulou, que histórias, que fatos agasalhou. Essa volta ao passado nada tem de nostálgica ou pitoresca; ao contrário, para se conseguir penetrar mais profundamente na analogia do presente, é necessário buscar propositalmente o passado.” (FERRARA, 1986, p.34-35)

No prédio de numero 83 da Rua Assembléia , na cidade do Rio de Janeiro, foi fundada em 1912 uma filial dos estabelecimento Mestre & Blatgé de Paris.
Quatro anos depois, setembro de 1916, o francês Luiz La Saigne, subgerente da filial desta firma em Buenos Aires f
oi convidado a tomar conta da filial do Brasil, sucursal muitíssimo pequena na época, que viria a se tornar uma das maiores organizações comerciais da América do Sul, reconhecida pelo nome composto pelas iniciais da Mestre & Blatgé: Mesbla, fundada pelo Sr. La Saigne a partir da antiga filial da antiga organização Francesa transformada, em 1924, em Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé , que em 1939 passou a denominar-se Mesbla S.A..
No ano de 1950, já estabelecidas nas capitais dos Estados Brasileiros, a Mesbla S.A. envia o Sr. Miguel Guzzardi para a cidade de Marília, interior do Estado de São Paulo, com a finalidade de instalar ali um escritório de vendas, o segundo em todo o Pais .
Marília, cidade então com pouco mais de vinte anos , contava com uma população de quase 40.000 habitantes e tinha sua história ligada à ação civilizadora da produção de café. Em agosto deste mesmo ano começava a funcionar, em uma sala alugada no pavimento superior do Edifício do Banco do Estado, localizado na principal avenida da cidade ( Av. Sampaio Vidal), um escritório de vendas ao varejo e principalmente ao atacado.

 

A pujante economia do Município na época, baseada na agricultura; acarretou vendas tão promissoras que levaram a direção da Mesbla S.A., poucos meses após a instalação do escritório de vendas, a decidir pela abertura de uma loja no município.
Em fevereiro de 1951, a Mesbla abria as portas de sua loja filial da cidade de Marília num edifício alugado, localizado na esquina da Rua 9 de julho com a Rua Mauá, a duas quadras da Avenida principal ( Centro Social, econômico e político da cidade ) .

O edifício da década de 40, de propriedade do Sr. Miguel Granito Netto, construído para abrigar a “Agência Internacional”, caracterizava-se por linhas retas e despojadas, encimado por platibanda escondendo os telhados, e uma esbelta marquise protegendo as grandes aberturas envidraçadas e a porta de entrada localizada no chanfro da esquina. Contava com dois pavimentos em sua parte localizada junto a Rua 9 de julho. O pavimento térreo era ocupado pela empresa, que comercializava eletrodomésticos ,peças automotivas e caminhões; além do serviço de oficina. No pavimento superior distribuíam-se várias sala para aluguel ocupadas por dentistas e outros profissionais, com acesso por uma escada independente pela Rua Mauá.
A Mesbla instalava-se então em parte do pavimento térreo onde funcionava a agência Internacional, que manteve ainda na outra metade o funcionamento de sua oficina . Tratava-se de um salão com boa altura, o que permitiu a execução de um mezanino em madeira em parte da área para abrigar as atividades administrativas da loja , bem como o escritório de vendas ao atacado.
Eram ofertados uma grande variedade de produtos para atender as necessidades de uma região em expansão: utilidades do lar , eletrodomésticos, equipamentos de refrigeração, geradores, armas e munições, bicicletas, barcos, automóveis, caminhões, tratores, peças e acessórios, entre outros.
No ano seguinte (1952) a Mesbla S.A compra o prédio e passa a oferecer também os serviços de oficina , ocupado onde funciona a oficina da Agência Internacional.

 
 


Aos poucos também foi sendo desocupado o pavimento superior, que se encontrava alugado , e ali passaram a funcionar as atividades administrativas e escritório de vendas ao atacado. A partir de 1958, com a aquisição da concessão da Ford pela Mesbla S.A , a filial de Marília separa a oficina e a venda de automóveis, caminhões, tratores e peças Ford, transferindo para um prédio alugado na Av. Sampaio Vidal esquina com a Rua Paes Leme. Consequentemente a liberação do espaço da oficina no prédio da loja permitiu, após uma reforma, o remanejamento da área de vendas dos motores elétricos ,geradores e peças e acessórios (que não da marca Ford) para este local, ficando o salão da esquina exclusivamente para a exposição e vendas de utilidades domésticas.
Nos anos seguintes o prédio passou por diversas pequenas reformas para acompanhar o dinamismo das atividades comerciais, até que, no ano de 1962, passa por uma grande reforma, e em agosto deste mesmo ano era inaugurada como a primeira Magazine Mesbla do interior.
A obra passava agora a ocupar todo o terreno da propriedade , além de estender o pavimento superior para todo o prédio, mas mantinha as linhas retas da edificação original, inclusive com complementação das vitrines na nova área de fachada, modificada apenas no detalhe das esquadrias do pavimento superior, que diferente do prédio original agora mostravam vãos horizontais sobrepostos por brises verticais. Construiu-se também um mezanino em nível intermediário que ocupava apenas uma parte da construção, e tinha acesso pelo patamar intermediário da escadaria principal.
A Magazine , então orgulho da população Mariliense , contou com o primeiro sistema de proteção contra incêndios com bombas de recalque e hidrantes na calçada no Município.
Constituiu-se numa loja de departamentos que ampliava a diversidade de produtos da antiga loja , criando seções especializadas de disco, perfumaria, moda masculina e feminina , confecções infantis, eletrodomésticos, móveis, caça e pesca etc...,alem de uma lanchonete com salgados e sorvetes ocupando o mezanino.


do comércio regional, recebendo consumidores e visitantes de várias cidades como Lins, Assis, Bauru, Ourinhos e outras.
Com o passar do tempo, a lanchonete foi desativada para dar lugar a novos departamentos de produtos. A Mesbla continuou sendo por décadas parte ativa do comércio de Marília e região , orgulho e ponto de interesse da população , lembrada e comentada pelas suas decorações de Natal, pelo seu tradicional Papai Noel que tanto povoou a imaginação dos pequeninos; pelos concorridos passeios noturnos de ida e vinda na calçada da Rua Mauá, apreciando as vitrines iluminadas cheias de novidades e sonhos, famílias, crianças de colo, namorados de mãos dadas; e as tranqüilas compras, bem a fatos e lugares, a cidade é o “locus” da memória coletiva. ... ; o “locus”, a arquitetura, as permanências e a história serviram-nos para tentar esclarecer a complexidade dos fatos urbanos.” (ROSSI, 1995, p.198)

Foi esta Mesbla que a população viu estampada na primeira página dos jornais do dia 28 de dezembro de 1990. Os jornais anunciavam uma decisão da diretoria da holding, no Rio de Janeiro, de fechar definitivamente as portas daquela que foi por 28 anos a única loja de departamentos da cidade de Marília.
Com o maior faturamento comercial da cidade, dez mil e quinhentos clientes cadastrados e cento e cinqüenta funcionários, estava sendo desativada devido a época que coincidia com as festas de fim de ano, e pairou sobre a cidade como uma “nuvem negra” pelos primeiros meses do ano de 1991 .


O edifício fechado e abandonado do Magazine, referência maior do comércio da Cidade, sinalizava como um decreto de falência e agravamento das crises nos investimentos do município. Além disso, com aproximadamente 140.000 habitantes, a cidade que já aspirava, como toda cidade média, a ter o seu shopping center, um ideal imaginário difundido pelo marketing, local de consumo desejado como objeto de consumo, via-se forçada agora pela dura realidade a retroceder seu sonho: “Como ,uma cidade que não tem potencial para manter funcionando uma loja de departamentos , poderia pleitear um shopping ?”
Restava agora o comércio tradicional do centro, com suas calçadas apertadas, ruas movimentadas onde o pedestre muitas vezes tinha que concorrer com os automóveis, e onde se deveria contentar com lojas desatualizadas e poluição visual.
Quanto ao prédio da extinta filial Mesbla, nenhuma expectativa de ocupação se poderia ter, já que não havia na cidade empresa no ramo comercial capaz de absorver tamanha área de construção (2773,00m2) , e nenhuma intenção de empresas externas.

O Partido

“...a paisagem compreende dois elementos:
1.Os objetos naturais, que não são obra do homem nem jamais foram tocados por ele
2.Os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano no passado, como no presente.
...espaço e a paisagem que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade.” (SANTOS, 1997, p.37)
Neste contexto surge a iniciativa de um tradicional empresário da cidade, Sr. Oswaldo Paschoal Anversa, ligado ao ramo de loteamentos, que após negociação com a diretoria da empresa Mesbla S.A. adquire o imóvel.

De posse deste, contrata um projeto arquitetônico; a idéia era que, na impossibilidade de negociar um edifício com tais dimensões, fosse este “loteado”, permitindo então a participação de vários investidores e a viabilização do empreendimento . O projeto consistia em transformar o edifício numa galeria de lojas.

 
     

Foi elaborado procurando respeitar as características mais marcantes da edificação existente e seu relacionamento com a cidade : escala volumétrica, vitrines externas e acessos principais. A proposta para a nova fachada era uma “sobreposição de gerações”: ao mesmo tempo que representaria o novo espaço, deixaria transparecer a antiga fachada por entre o painel metálico.
O grande pé direito do pavimento térreo permitiu que as lojas fossem propostas com aproximadamente 30 metros quadrados e acrescidas por mezaninos. Já o pavimento superior, com pouca altura, não permitiu a solução com mezaninos, gerando lojas com aproximadamente 60 metros quadrados.
As lojas eram distribuídas pelas circulações internas de pedestres , complementadas com floreiras, bancos, fonte, “ilhas” com cafés, sanitários para o público, para os funcionários e sala da administração, além de um restaurante no pavimento superior, num total de 51 unidades
Com o projeto pronto, foi elaborado um folder para que a equipe de corretores pudesse colocar a venda as unidades, que seriam negociadas como um sistema de condomínio, com escritura individual por unidade (um forte apelo de vendas).


Os Desmembramentos
“Quando uma história, um sinal ou um significado vêm ligar-se a um objeto, aumenta o seu valor enquanto marco.” (LYNCH, 1997, p.90)

Superando todas as expectativas, em três dias todas as lojas foram negociadas, inclusive gerando a partir daí uma extensa “lista de espera” com nomes de interessados.
Pesava ai toda a história de um ponto comercial consolidado, de tradição regional, identificado com a população e o comércio tradicional, inserindo no centro da cidade, e próximo ao terminal de ônibus urbano, diariamente lugar de convergência de milhares de pessoas. Além disso passava, com o novo programa proposto, a incorporar as expectativas do espaço imaginário gerado pelos Shopping Centers.

 
     

O sucesso do empreendimento resgatava o “lócus”, ao mesmo tempo em que “realizava o sonho” de um espaço de consumo carregado de status.
O início das obras trazia ânimo e esperança a população, que sentia o centro comercial renascer; expectativas de investimentos e crescimento.
No dia 29 de novembro do mesmo ano (1991) era inaugurada com nome de Galeria Atenas . Uma multidão se aglomerou em frente ao prédio para assistir a solenidade. Durante vários dias o acesso de pessoas teve que ser organizado por seguranças , tamanha a curiosidade de conhecer o novo espaço.
A Galeria Atenas incorporava além das atividades comerciais uma estratégia que oferecia a população atividades sociais, culturais e de lazer, além de funcionar até as 22:00 horas, animando aquela área do centro da cidade também no período noturno.
Após alguns meses de funcionamento o empreendimento anexava, através de arrendamento, uma área ao lado (pela Rua Mauá) de propriedade da Fepasa, que passava então a servir como estacionamento, com acesso por uma porta aberta na circulação do pavimento térreo.
Com a Galeria Atenas consolidada, é lançado em Marília a negociação do Marília Shopping Center, empreendimento da Zaremba Engenharia ( participou no Shopping Iguatemi S.P. –1966), que trazia os conceitos de Shopping Center Regional no modelo rodoviário americano. Localizado próximo a rodovia, seria um edifício fechado envolto por uma gigantesca área de estacionamento, com projeção de 26.000,00 metros quadrados num terreno de 75.000 metros quadrados.

 
     
 
 
     

O projeto contava com lojas âncoras, cinemas, praça de alimentação, centro de diversões, praça de eventos, hipermercado e mais de cem lojas.
O empreendimento não foi viabilizado porque não houve aceitação dos interessados em adquirir as lojas nos termos do contrato de “vendas” das unidades. Conhecedores dos termos da Galeria Atenas ,que comercializou as lojas no sistema convencional de condomínio e propriedade , não admitiram as condições que regem os Shopping Center em relação a autonomia e propriedade das unidades, além da “participação no faturamento” das lojas
O sucesso da Galeria Atenas e a constante procura por suas unidades, sem haver disponibilidade, geraram um novo empreendimento semelhante inaugurado em 1995, denominado “Shopping Alto Cafezal”, que na realidade consistia numa galeria comercial executada à partir da reciclagem de barracões do antigo Pastifício Marília (Indústria de Massas-Irmãos Raineri) , localizado à 200 metros da Galeria Atenas. Com 57 lojas, centro de divertimentos, praça de alimentação, estacionamento e um cinema, apenas este em pavimento superior, circulação internas com iluminação natural zenital, passa a integrar o “circuito” das pessoas que vinham ao comercio do centro da cidade em busca de consumo e lazer.
O “Shopping Alto Cafezal”, diferentemente da Galeria Atenas, é de propriedade de um único investidor, que cobra uma taxa para ocupação do espaço e depois recebe um aluguel mensal .

 
 


Aproximadamente na mesma época do Alto Cafezal , foi comercializado o Shopping Aquários com arquitetura nos moldes do Shopping Center tradicional: uma “caixa” fechada em meio a uma ampla área de estacionamento, localizado próximo à rodovia ,com lojas âncora, cinema, praça de alimentação, centro de lazer e mais 100 lojas organizadas por um “mix”.
A grande diferença deste com os Shoppings tradicionais está no sistema de comercialização : uma obra vendida a preço de custo num sistema de condomínio, unidades com escritura definitiva, administrada por uma comissão de condôminos mais a incorporadora.
Em 1996 inicia a execução do Esmeralda Shopping, ocupando uma quadra em bairro nobre da cidade, frente para uma avenida tradicionalmente movimentada pela sua pista de cooper.
Trata-se na realidade de mais uma galeria comercial, nos mesmo moldes de comercialização da Galeria Atenas. Hoje ainda em construção, localizado a mil metros do “Shopping” Alto Cafezal, já se esforça para integrar-se no “circuito” dos consumidores do centro tradicional, Galeria Atenas e Alto Cafezal, através de atividades no local da obra para atrair o público: exposições, shows, decorações de Natal etc.
Hoje existe um “circuito” de consumo e lazer em que os pedestres passam do centro comercial, pela “rua interna” da Galeria Atenas, para o Shopping Alto Cafezal, pela “rua interna” do Alto Cafezal, ( e futuramente para o Esmeralda Shopping pela pista de cooper da Avenida das Esmeraldas, pela “rua interna” do Esmeralda Shopping ), evidenciando a inserção das galerias na malha urbana .

Referências na Bibliografia
Sobre o Método
“O lugar, nesta acepção em que foi redescoberto , está longe portanto de se confundir com o espaço físico de implante da construção ... ; de fato ele se cristaliza por assim dizer impregnando, circunscrevendo, um espaço determinado – qualificando-o ao convertê-lo num fato único, sobrecarregado de sentido (histórico, psicológico etc.), camadas de significação que ultrapassam o ser bruto imediato.” (ARANTES, 1995, p.124)
(Obs.: falando de Rossi)
“O lugar como foco de significações coletivas reúne tudo o que o estruturalismo tentou demolir: a história, a continuidade, a memória, a tradição, a consciência (mesmo coletiva) enquanto fonte irredutível de sentido – enfim tudo aquilo que faria o sujeito (o inimigo mortal daquele ideário) sentir-se em casa, reconhecer-se nalgum monumento, na prática acumulada de algum mundo de vida.” (ARANTES, 1995, p.128)
“A história de um ambiente, as mudanças sociais e econômicas que sobre ele incidiram, as características físico-geográficas que o caracterizaram ou que vieram a mudar sua aparência são elementos que precisam ser levantados e levados em consideração na montagem de um plano de leitura não verbal. Esse levantamento primeiro e operacionalmente básico para a leitura chama-se contextualização. (FERRARA, 1986, p.32)
“Entende-se por LUGAR um espaço físico que adquire conotações afetivas para aquela sociedade, através da inter-relação homem/meio ambiente.” (GOYA, 1996, p.87)
“A arquitetura tem, na atualidade, considerado a preservação de construções não apenas por suas características arquitetônicas relevantes, suas conotações históricas, ou ainda por sua antigüidade. A preservação de construções significativas como referencial dentro da paisagem urbana, e elemento de ligação entre a cidade e seus moradores, apresenta-se como uma maneira contemporânea de se enfocar a problemática urbana.” (GOYA, 1996, p.88)
“Um maior humanismo na arquitetura depende de metodologias projetuais fundamentadas numa melhor compreensão do inter-relacionamento entre o homem e a paisagem construída, principalmente a níveis psicológico, comportamental, social e cultural.” (RIO, 1996, p.18)
“O primeiro passo refere-se à necessidade de contextualizar, situar o lugar urbano em todas as suas particularidades. Essa contextualização, desenvolvida sobre a forma de um levantamento, ... À contextualização segue-se a desmontagem dos lugares urbanos em seus segmentos, a fim de que a leitura os reconstrua de outras maneiras, pela surpresa que a revisão pode sugerir.” (RIO, OLIVEIRA (orgs.), 1996, p.67)
“Sabemos ser possível a “leitura” dos processos de organização social através dos signos da arquitetura do edifício e da cidade. Como arquitetos e urbanistas indagaríamos até onde o projeto transmite sua intencionalidade através da forma e até quanto sua leitura pode ser feita pelo usuário.” (RODRIGUES, 1986, p.42)
“...A crítica dos monumentos também pode articular-se esquematicamente na seguinte classificação aproximativa:
a)análise urbanística, isto é, a história dos espaços exteriores em que surge o monumento e que ele contribui para criar;
b)análise arquitetônica propriamente dita, isto é, a história da concepção espacial, do modo de sentir e viver os espaços interiores;
c)análise volumétrica, isto é, estudo do invólucro mural que contém o espaço;
d)análise dos elementos decorativos, isto é, da escultura e da pintura aplicadas à arquitetura e sobretudo aos seus volumes;
e)análise da escala, ou seja, das relações dimensionais do edifício relativamente ao parâmetro humano. ...” (ZEVI, 1996, p.54-55)


Sobre o Centro Urbano
“...em 1951, o grupo inglês MARS apresenta como tema para o Congresso a re-centralização da cidade dispersa pelo zoneamento funcional moderno, através de um espaço físico – “o coração da cidade” – “em que se possa manifestar o sentido da comunidade”.” (ARANTES, 1995, p.120-122)
“A partir do começo do século XX...a Área Central constitui-se no foco principal... . Nela concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização. (CORRÊA, 1995, p.37-38)
“Em razão de suas vantagens locacionais, o preço da terra e dos imóveis é ai o mais elevado. Isto leva a uma seleção de atividades. Localizam-se na Área Central aquelas que são capazes de transformar custos locacionais elevados e ampla acessibilidade em lucros maximizados: são as atividades voltadas para um amplo mercado, nacional, regional ou abrangendo toda a cidade.” (CORRÊA, 1995, p.40)
“...conflitos de percepção e a importância da imagem das cidades ficam muito evidentes quando tratamos das áreas centrais que, por estarem profundamente ligadas a lógicas históricas e socioespaciais, se destacam em nossas percepções e vivências das cidades. Castells (1971) observava que as principais funções do centro urbano sempre gravitam em torno de duas noções: a integradora (nível funcional e social) e a simbólica (nível imagético e lúdico). O lugar central de uma cidade assume papéis de centro inovador, simbólico e de intercâmbios, características presentes nas expectativas de qualquer pessoa, relativas a um “centro de cidade” e, por isso, fundamentais para as imagens públicas da maioria das cidades.” (RIO, OLIVEIRA, 1996, p.04)

“As áreas urbanas centrais são as que oferecem maior e mais diversificado número de bens e serviços e por conseqüência onde circulam e permanecem o maior número de usuários da cidade, o que lhes confere ainda um caráter mais democrático em relação a outras áreas pela interação permanente entre habitantes de diferentes origens da cidade.” (RODRIGUES, 1986, p.50).


Sobre a Carga Imagética dos Shoppings
“...especialmente nos fins de semana, os shoppings se transformam em cenários interclasses onde ocorrem os encontros, as paqueras, as “derivas”, o ócio, a exibição, o tédio, o passeio, o consumo do simbólico.” (FRÚGOLI, 1991, p.52)
“Dado o agenciamento de equipamentos ligados sobretudo ao lazer, criam também novas “centralidades urbanas”, sobretudo para grupos jovens, que transformam tais espaços em significativos locais de entretenimento, encontro e sociabilidade.” (FRÚGOLI, 1995, p.80)
“...os shopping centers aspiram a traduzir, num espaço fechado, a utopia urbana que o capitalismo moderno não realizou para o conjunto da sociedade: uma ‘cidade’ ideal, repleta apenas de cidadãos consumidores, sem vestígios de pobreza e deterioração, uma ‘cidade’ onde “... o consumo é simultaneamente de mercadorias e imagens” ” (FRÚGOLI, 1995, p.95)
“...novos modos de vida e paradigmas buscados pela classe média, insuflados pela sociedade de consumo. Seriam as novas condições “dignas” de moradia ofertadas pelo subúrbio, as cidades-novas onde tudo era “corretamente planejado para nosso conforto”, as migrações das grandes empresas para maior eficácia de sua atuação e de sua imagem, a nova forma de comprar dos “shopping-centers”, entre outros fatores. Como conseqüência, as áreas centrais se deterioraram física, econômica e socialmente;...” (RIO, 1990, p.20)
“...não apenas à estrutura material da cidade, mas também à idéia que temos da cidade como síntese de uma série de valores. Concerne a imaginação coletiva.” (ROSSI, 1995, p.194)
“Pode-se dizer que a evolução da forma, ligada primeiramente a estruturas simples, a técnicas simples e muito mais tarde aos progressos científicos, é agora função de marqueting.” (SANTOS, 1997, p.41)
(Obs.: Complementa Frúgoli, 1995, p.95)
“Nos limites entre os quais é legitimo esquematizar um processo histórico-crítico, frente a uma época ou a uma personalidade artística, dever-se-ia, antes de mais nada, explicar os seguintes dados:
a)Os pressupostos sociais. Todos os edifícios são resultado de um programa construtivo. Este fundamenta-se na situação econômica do país e dos indivíduos que promovem as construções, e no sistema de vida, nas relações de classe e nos costumes que dela derivam.
b)Os pressupostos intelectuais, que se distinguem dos anteriores por incluírem não só aquilo que são a coletividade e o indivíduo, mas também o que querem ser, o mundo dos seus sonhos, dos seus mitos sociais, das aparições e das crenças religiosas.
c)Os pressupostos técnicos e, ...
d)O mundo figurativo e estético, ...” (ZEVI, 1996, p.53-54)


Referente à loja de Departamentos e História

“A acessibilidade, por sua vez, atraiu as nascentes lojas de departamentos - uma criação visando distribuir uma gama enorme e crescente de produtos industriais para um crescente mercado consumidor constituído predominantemente por assalariados...” (CORRÊA, 1995, p.39)
“O Mappin Stores, instalado em 1913 ... constituiu inicialmente um típico espaço de afluência das classes privilegiadas. ... dispunha também de salão de chá, posteriormente transformado em restaurante, que constituía outro atrativo para a tarde das ‘elegantes paulistas’”.
A própria introdução da loja de departamentos acarretava uma série de novos procedimentos modernizantes na região (rejeitando a herança do mercado tradicional, que compreendia a própria “barganha” ou “pechincha” como parte constitutiva); expor os produtos de forma racional e organizada; entrar na loja sem a obrigatoriedade da compra; concentrar as mercadorias e combiná-las espacialmente de modo a promover também o consumo “por impulso”; contar com técnicas publicitárias de divulgação nos meios de comunicação, fixando desde promoções até slogans para gravar a imagem junto ao consumidor.
Além disso, como no caso do chá do Mappin, aliavam a idéia das compras ao lazer, ...” (FRÚGOLI, 1995, p.26)
“Os marcos, pontos de referência considerados externos ao observador, são apenas elementos físicos cuja escala pode ser bastante variável. Os mais familiarizados com a cidade pareciam tender a confiar cada vez mais, como guias, nos sistemas de marcos, a preferir a singularidade e a especialização às continuidades anteriormente usadas.” (LYNCH, 1997, p.88)
“...devemos ver o passado como algo que encerra as raízes do presente,...” (DELLA VOLPE apud SANTOS, 1997, p.10)

Sobre Galerias Comerciais e sua Inserção na Malha Urbana
“Há uma série de vantagens a considerar na reunião de pessoas para formar uma cidade. Uma família isolada no campo não terá muitas hipóteses de ir ao teatro, ao restaurante ou a uma biblioteca, enquanto que na cidade tudo isto passará a estar ao seu alcance. Os reduzidos meios de cada agregado familiar multiplicados por dezenas ou centenas de milhar permitem imediatamente a criação de equipamentos colectivos. Efectivamente, uma cidade é algo mais do que o somatório de seus habitantes: É uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem – independentemente de outras razões – viver em comunidade a viverem isoladas.” (CULLEN, 1983, p.09)
“...assim como a reunião de pessoas cria um excedente de atracções para toda a colectividade, também um conjunto de edifícios adquire um poder de atracção visual a que dificilmente poderá almejar um edifício isolado.” (CULLEN, 1983, p.09)

“É atualmente o shopping com o maior volume de freqüentadores e de faturamento global em todo o país. ... próximo a vias de transporte coletivo – metrô, terminal rodoviário etc. – e com um projeto arquitetônico que incorporou signos presentes no centro tradicional reciclados numa nova síntese, o Center Norte possui um perfil de freqüentadores que vai das camadas médias às populares. Esse público realiza em geral compras de menor valor, mais adequadas às suas possibilidades, tendo como alternativa o comércio tradicional das ruas.” (FRÚGOLI, 1991, p.52)
“...um processo de especulação imobiliária, e a alteração constante dos referenciais urbanos despersonaliza as cidades, fazendo com que seus moradores não reconheçam mais sua cidade num espaço de poucos anos, ... A preservação destas construções, representativas de nossa herança urbana, é necessária para que possamos nos referenciar dentro do ambiente urbano, e isto é fundamental para que os habitantes se sintam emocionalmente seguros dentro da cidade.” (GOYA, 1996, p.87)

“Embora os grandes edifícios que tem como objetivo ser acessíveis para o maior número possível de pessoas não fiquem permanentemente abertos e ainda que os períodos em que estão abertos sejam de fato impostos de cima, tais edifícios realmente implicam uma expansão fundamental e considerável do mundo público.
Os exemplos mais característicos desta mudança de ênfase são sem dúvida as galerias: ruas internas de comércio cobertas de vidro, tais como as construídas no século XIX, e das quais muitos exemplos marcantes ainda sobrevivem em todo o mundo.” (HERTZBERGER, 1996, p.74)
“Em Paris, onde a galeria de lojas foi inventada e floresceu (ainda existem muitas galerias, especialmente no primeiro e no segundo Arrondissement), há três quadras consecutivas com passagens internas de ligação:...” (HERTZBERGER, 1996, p.75)
“O princípio da galeria voltou a adquirir relevância local quando o volume do trânsito nas ruas do centro das cidades tornou-se tão pesado que surgiu a necessidade de áreas exclusivas para pedestres, i.e., de um “sistema” exclusivo para os pedestres ao longo do padrão existente das ruas.” (HERTZBERGER, 1996, p.76)
“...uma área comum em um shopping center, por exemplo, pode ser chamada de espaço ou ambiente “semipúblico”, uma vez que, embora pertencente a um grupo privado empreendedor, é usada para funções públicas, recebendo uma população usuária que dela se utiliza, ...” (ORNSTEIN, 1995, p.75)
“A técnica de comercializar em shopping center se apoia no oferecimento de um ambiente aconchegante e seguro, como sendo o desejo máximo dos consumidores. ... Provavelmente o termo aconchegante pode medir o conforto de sair de casa, mesmo sobre as piores condições climáticas, chuva, vento e frio, ou excesso de sol e calor, e encontrar um lugar seguro para estacionar e um ambiente protegido e quase sempre climatizado...” (ORNSTEIN, 1995, p.76)
“Ao alterarem-se expectativas e comportamentos, os repertórios imagéticos e as comunidades locais são fortalecidos, atraem-se investimentos, amplia-se o consumo e cativam-se novos públicos usuários, garantindo o sucesso financeiro da revitalização.” (RIO, OLIVEIRA (orgs.), 1996, p.06)
“Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. ... A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade. A forma é alterada, renovada, suprimida para dar lugar a uma outra forma que atenda às necessidades novas da estrutura social.” (SANTOS, 1997, p.38)
“...nos históricos sobre os estabelecimentos comerciais o shopping center é apresentado como o corolário de uma gradual evolução iniciada nos primitivos mercados e no comércio de rua, passando pelas oitocentistas lojas de departamento.” (SEGAWA, 1989, p.84)

Sobre o Relacionamento Entre os Edifícios
“No caso do conjunto, imaginemos o percurso do transeunte: ao afastar-se pouco a pouco dos edifícios depara, ao virar de uma esquina, com um edifício totalmente inesperado. É normal que fique surpreendido ou até mesmo espantado; mas sua reacção deve-se mais a composição do grupo do que a uma construção específica. Imaginem-se agora os edifícios colocados de maneiraa permitir o acesso ao interior do conjunto; então o caminhante sentirá que esse espaço delimitado tem uma vida própria,...” (CULLEN, 1983, p.09)
“...embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas.” (CULLEN, 1983, p.11)
(Obs.: Considera os aspectos movimento, localização e conteúdo, para identificar como o meio-ambiente suscita reações emocionais.)
“A avaliação deste item envolve a análise de todos os caminhos, pavimentados ou não, para pedestres ou para veículos, situados ao redor do edifício. O objetivo desta análise é acompanhar a evolução das necessidades de circulação externa do usuário ao longo da vida útil do edifício. O resultado deste tipo de trabalho tem demonstrado ser uma fonte muito rica de subsídios para intervenções mais conscientes e seguras quanto a este aspecto.
O usuário, estando a pé ou utilizando veículos motorizados, determina qual é a melhor opção que lhe satisfaz para ir e vir e, em diversos casos, modifica o ambiente físico construído em função de suas necessidades.” (ORNSTEIN, 1992, p.192)

Sobre os Shopping Centers
“...em sua evolução, a transformação dos shoppings centers, em certos casos, tem em vista a sua complementação com novas atividades, de modo que passem a ser multifuncionais – com hotéis, salões de exposições, escritórios de profissionais liberais - , cercados por um entorno urbano preferencialmente residencial, como parte ou não do empreendimento. O padrão pretendido é o de uma área urbana central, porém organizada espacial e urbanisticamente para proporcionar alta acessibilidade, ...” (BRUNA, 1989, p.96)
“O subcentro regional constitui-se em uma miniatura do núcleo central. Possui uma gama complexa de tipos de lojas e de serviços... . Muitas de suas lojas são filiais de firmas da Área Central... . A magnitude destes subcentros depende da densidade e do nível de renda da população de uma área de influência. ... a hierarquia acima indicada foi marcada, após a Segunda Guerra Mundial, pelo aparecimento dos shopping centers planejados, localizados em áreas que reúnem duas características: a forte acessibilidade e o status social elevado de seus habitantes.” (CORRÊA, 1995, p.51-52)
(obs.: Subcentros não foram analisados nesta pesquisa.)

“...os shoppings aspiram se tornar sucedâneos dos antigos centros comerciais tradicionais, “fazendo ponto” nas áreas em que se instalam.” (FRÚGOLI, 1991, p.52)
“...um outro conjunto de usos do espaço, ... que vêm trazendo uma série de mudanças em esferas como a do trabalho, da moradia, do consumo e da circulação, destinados principalmente às classes sociais de maior poder aquisitivo, e que, reunidos, criam uma espécie de “cidade à parte”, articulada de forma problemática à cidade já existente.
Essas mudanças metropolitanas dissolvem de certa forma a noção tradicional de “centralidade urbana”, criam espaços privados com algum tipo de acesso público, priorizam as classes sociais mais privilegiadas e reforçam as desigualdades sociais.” (FRÚGOLI, 1995, p.73)
“Boa parte dos integrantes dessas classes médias, notadamente aqueles situados num patamar de alto poder aquisitivo, integram-se cada vez mais a um modo de vida que se traduz, nas metrópoles, num padrão funcional caracterizado por uma espécie de “circuito”, incluindo “moradias fechadas”, trabalho em complexos empresariais, consumo de supermercados, shoppings, circulação em veículos particulares, etc. Articula-se neles um modo de vida distinto, segregado e diferenciado, evitando o máximo possível o contato com espaços públicos e sua diversidade de grupos sociais.” (FRÚGOLI, 1995, p.76)
“...os shopping centers, estabelecimentos que, surgidos nos anos 60, só tiveram um real crescimento a partir dos anos 80 nas cidades brasileiras de maior porte, ...” (FRÚGOLI, 1995, p.79)
“...não se leva em conta a manutenção das características topográficas do sítio de implantação. “A topografia não faz o desenho do edifício”, diz ele. E por isso é comum partir para grandes movimentações de terra na fase de execução de edificações do gênero.” (OLIVEIRA, 1990, p.66)
“...alguns dos shopping centers ... nada tinham a ver com o entorno urbano em que se localizam. ... O que não quer dizer que ele seja pernicioso. Mas é óbvio que ele altera o funcionamento do entorno, muda comportamentos e influi em toda área, sob o aspecto imobiliário.” (OLIVEIRA, 1990, p.67)
“..., bem protegida do perigo e da confusão das ruas, construindo uma cidade “intra muros”. Se antes, vinte minutos eram gastos para percorrer os pequenos shoppings de bairro; hoje, nos mega-shoppings, leva-se pelo menos três horas. Um mesmo espaço concentra não só um número incrível de lojas que vendem toda a sorte de mercadorias como, também, parques de diversão, centros médico, escritórios, repartições públicas, bancos, restaurantes, cinemas, teatros etc, reproduzindo, aos poucos, o papel do antigo “centro” urbano. ... Deste modo, os shoppings fechados ... Ao voltarem-se para dentro, dão costas para as ruas e espaços públicos, condenados ao esmaecimento de suas funções originais.” (RIO, SANTOS, 1998, p.114-115)

“Nossas cidades não tem mecanismos específicos para controlar o impacto de um shopping center em suas superfícies habitáveis quando se sabe da pretensão de implantar no mínimo um edifício desse gênero em cidades com 100.000 habitantes ou mais.” (SEGAWA, 1989, p.84)
“...ele é “um complexo equivalente a uma cidade”, envolvendo um leque de operações de manutenção, segurança, custo, circulação, conforto etc., em sua cruzada contra o comércio tradicional de rua. No Brasil, os shoppings são verdadeiras cidades intramuros, mantendo uma áspera conversação com o urbano concreto. À exceção de algumas estruturas inseridas na malha urbana ... a grande maioria dessas edificações são volumes cúbicos que poderiam ser confundidos com edifícios industriais, ...” (SEGAWA, 1989, p.84)

Reflexões
“...os postes de luz, os postes para placas de rua, um anúncio publicitário, os suportes dos semáforos, os suportes das placas de trânsito, o luminoso da loja, o out door, a banca de jornal, a cerca da obra de esgotos, o telefone público e, a alguns metros dali, o ponto de ônibus, também com sua publicidade. Uma desintegrada e descoordenada multidão de objetos. Por mais bem resolvido que seja cada elemento isolado, por melhor que seja seu design, se não integrarem um sistema único, se não falarem uma única linguagem, na melhor das hipóteses, o resultado final será um caos bonitinho.” (CAUDURO, 1992, p.28-29)
“...diretrizes que possam ser adotadas para a preservação do Patrimônio Arquitetônico, enfatizando as construções indicadas pelos cidadãos como merecedoras de serem preservadas. Pois acreditamos que qualquer projeto de preservação, além de considerar os valores próprios de cada construção, ligados as características formais, estéticas, documentais e arquitetônicas, para ser bem sucedido deverá considerar também a percepção do usuário em relação a estas construções.” (GOYA, 1996, p.86)
“O programa traduz necessidades e aspirações formuladas pela vida individual e social dos homens.” (GRAEFF, 1986, p.19)
(Obs.: Sobre o programa de necessidades como condicionante de projeto.)
“A facilidade de estacionamento, tantas vezes ressaltada, é relativa, pois nas épocas de festas se torna mais fácil estacionar próximo aos centros comerciais dos bairros e mesmo no centro do que nos shoppings. “Talvez a maioria dos freqüentadores não seja nem de consumidores, no sentido estrito do termo, mas pessoas carentes de lazer e de lugares para passear.” (MONTEIRO, 1989, p.88)

“...a zona comercial da rua 25 de Março, em São Paulo, que, “medida por qualquer padrão de racionalidade, é um desastre. Lá ha muita gente, gritaria, calçadas estreitas, trânsito permanentemente engarrafado, degradação ambiental causada pela concorrência das lojas, poluição visual, falta de segurança e, no entanto, vende-se muito. O mesmo pode ser dito com variações importantes, de todas as outras zonas comerciais, até mesmo da sofisticada rua Oscar Freire. O lojista continua investindo na rua, talvez até mais do que nos shoppings”.” (MONTEIRO, 1989, p.94)

“Será que a opção pela vida do lado de dentro, ao mesmo tempo em que deixa a cidade menos pública, significa que estamos perdendo a fé na possibilidade de uma urbanidade pública, democrática, socialmente diferente e tolerante ? Optar pelo lado de dentro implica investimentos e manutenção constantes por parte de pessoas que podem pagar por isso, enquanto do lado de fora as pessoas que não podem pagar sentem o descaso crescente para com os espaços públicos da cidade. Um bom exemplo é o desaparecimento de banheiros públicos; a classe média e os executivos podem usar os banheiros de museus, galerias de arte, lojas de departamentos e de restaurantes, mas o mesmo não é permitido aos pobres e mendigos.” (RIO, SANTOS, 1998, p.117)

Conclusão
“Ao contrário dos planos e projetos de renovação urbana que pressupunham um processo destrutivo precedente ao construtivo, na busca por um princípio de ordem e uma “totalidade racional” (Ferrara, 1988), a revitalização urbana é um conceito bem mais abrangente. ... Trata-se de compor objetivos de desenvolvimento aos de recuperação e preservação de estruturas abandonadas ou deterioradas, ...” (RIO, OLIVEIRA, 1996, p.05)

Não é de hoje que existem preocupações com a deterioração dos centros urbanos, porém apesar disso até hoje este quadro continua a se agravar.
No que diz respeito a arquitetura dos espaços comerciais, os shopping centers contribuem cada vez mais para o fato, mesmo tendo normalmente em seu perfil usuários de faixas econômicas superiores.
Porém, não se pode creditar toda a culpa aos chamados “templos de consumo”. Ele é apenas um item entre as muitas causas econômicas, sociais e culturais que transformam a sociedade e seu meio-ambiente. No comércio do centro das cidades geralmente faltam investimentos e manutenção por parte dos lojistas e cuidados por parte do poder público, o que reforça a idéia da “qualidade de vida” dos shopping centers.
A pesquisa procurou tratar da contextualização (Ferrara) do Lugar (Goya) (Rio), do Locus (Rossi), estendida a uma arquitetura não necessariamente de grande valor plástico, mas de grande valor perceptivo, programático, conceitual e dinâmico, além de grande valor histórico no que se refere ao espaço como local de convívio social.
Inserida no “coração da cidade” (Arantes), o espaço mais democrático (Rodrigues) do Município de Marília pela interação permanente entre cidadãos de todos os seus pontos, a Galeria Atenas é fruto de uma atualização programática em um edifício pertencente a memória da cidade.

Analisando o impacto de sua implantação, constatamos que ela direta ou indiretamente desencadeou uma série de acontecimentos e fatos:
# Reativou a força imagética da área central.
# A reconversão do prédio da Mesbla e sua transformação em Galeria Atenas, acompanhada de sucesso comercial, contribuiu para a reconversão dos barracões do Pastifício Marília e sua transformação em “Shopping” Alto Cafezal.
# O sucesso comercial da Galeria Atenas confirmou uma estratégia de localização que implantou o Esmeralda “Shopping”: instalou-se junto a seu público “alvo”.
# O modelo jurídico do empreendimento da Galeria Atenas viabilizou as vendas do Shopping Aquários.

# O conjunto de investimentos formado pela Galeria Atenas e os impulsionados por ela no centro urbano é responsável por grande número de atividades sociais, culturais e de lazer, além das comerciais.
# As galerias em funcionamento mantém o dinamismo de seu entorno além dos horários normais de funcionamento do comércio tradicional, e inclusive nos fins de semana.

Considerando que as galerias são uma expansão considerável do mundo público (Hertzberger) , a pesquisa identificou também o percurso sistemático gerado pelos usuários entre o terminal de ônibus urbano, ocentro comercial e as galerias; ao contrário dos shoppings tradicionais, as galerias inseridas na malha urbana estimularam o contato com espaços públicos e seus diversos grupos sociais.
Essa identificação, trabalhada como condicionante de projeto, permitiria a adequação destes espaços urbanos em seu entrelaçamento com as áreas semipúblicas (Ornstein) das galerias e vice-versa , inclusive resgatando algumas das funções urbanas das antigas galerias francesas.
A cidade de Marília conta hoje com uma população de quase duzentos mil habitantes. O resultado da pesquisa sugere que numa cidade de porte médio o reconhecimento da história como referência projetual (Segawa) poderia identificar edifícios capazes de, através de reconversões, atender a programas arquitetônicos de galerias comerciais, orientadas de maneira a servirem de “ancoras” na reanimação dos centros urbanos.
Sugere ainda que se possa identificar e expor fatores indutivos que contribuam para reverter a atual tendência de deterioração dos espaços dos centros das cidades, enfocando a arquitetura dos espaços comerciais, seu inter-relacionamento e seu relacionamento com a malha urbana e a dinâmica da cidade , de modo que o interesse privado e o interesse público se complementem.

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